Extrapolando a empatia e rumando a alteridade

Thamires Cruz
3 min readJun 7, 2021

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Em maio, participei de um papo da Escola Echos dentro do Unconference. O tema do dia era “Habilidades do design para navegar em tempos incertos e inovar”.

Entre soft skills, decolonização do design (temas sobre os quais também espero estudar mais e falar um pouco) os palestrantes falaram um tanto sobre alteridade.

Nas palavras do Fernando França, durante o evento, “Precisamos extrapolar o ambiente da empatia e caminhar para a alteridade.” Eu nunca ouvi o termo antes mas, pelo visto, devia estar no radar dos designers tanto (ou mais) quanto empatia.

Eis o quê descobri.

Bandeira vetor criado por upklyak — br.freepik.com

Alteridade é um conceito ligado à antropologia e à história. Vem do latim alteritas, que significa “ser o outro”. Com uma pesquisa no navegador, encontramos como primeira acepção “natureza ou condição do que é outro, do que é distinto.”

Entende-se logo que a noção da DIFERENÇA é ponto central para pensar alteridade.

Sabemos que, como seres humanos, podemos interagir e somos interdependentes uns dos outros, ou seja, estamos em constante contato. Através desse contato percebemos que somos distintos. Nos reconhecemos diferente do outro.

Falando um pouco sobre a empatia

Empatia é um conceito comumente usado em psicologia. Sua origem está na palavra grega “pathos”, que significa sentimento. Empático é aquele que tem um sentimento para o outro e, segundo a própria psicologia, “o indivíduo que se coloca no lugar do outro e, com base em suas próprias suposições ou impressões, tenta compreender o comportamento do outro.

“A empatia é uma causa relacional psicológica, de pensar no outro colocando-se no lugar dele.”

É provável que, falando em empatia, você já tenha ouvido a expressão “calçar o sapato do outro” para explicar o termo, correto?

Bem, pense mais um pouco: o sapato pode não ter sua numeração ou não estar adaptado à forma do seu pé, dentre outras variáveis. É o seu pé (suas próprias suposições ou impressões) tentando compreender o caminhar de outra pessoa (que já caminhou muito por aí com esse sapato).

O cérebro humano evoluiu para aprender a viver em sociedade e, dessa forma, o que acontece à nossa volta nos influencia direta ou indiretamente, modificando assim nossa percepção de mundo. Somos capazes de nos conectar emocionalmente com outras pessoas. Mas e as nossas próprias concepções?

(Auto) Observação

Bem, podemos nos conectar emocionalmente, mas nunca seremos o outro.

A empatia é algo, na minha visão, difícil o bastante. No artigo “A banalidade da empatia”, Rodrigo Lemes diz “banalizamos a empatia, confundindo nossa capacidade de enxergar com a capacidade de sentir o que o outro sente.” Mais ainda, como sentir as dores que nunca sentimos antes? Será que temos mesmo as mesmas sensações? Vamos lembrar do momento sofrido posteriormente? Ou vamos pensar “eu consegui; outros conseguem também”?

Apesar de mais difícil ainda deixar de lado meus julgamentos e vivência, a alteridade me parece um pouco mais praticável (mas não menos complicada). Passei a pensar nela como um real exercício de observação. Esquecer minha própria lógica.

Além disso, acredito que seja também uma forma de auto observação: estou aqui aprendendo, sem fazer juízo de valor? Ou estou colocando minha própria percepção, chegando a inferir coisas?

Cheguei a me imaginar como uma antropóloga de fato que observa uma tribo. Um exercício não muito distante da próxima pesquisa que vier.

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Thamires Cruz

Designer em eterna formação. Curiosa sobre psicologia, comportamento humano e história(s).